Uma das coisas que eu mais
gosto do nosso país é a criatividade do brasileiro para viver. As condições
podem ter melhorado, mas a vontade de estar inserido no mercado consumidor faz
com que as pessoas criem mais necessidades. Entre idas e vindas nos ônibus
sempre escuto as histórias de várias pessoas para viver nesse mundo tão cheio
de atrativos.
Um dia duas diaristas
falavam sobre as contas para pagar, a dificuldade em criar os filhos. Uma delas
bem simpática veio do nordeste para ajudar a irmã. Conheceu o “amor da sua vida”,
pelo menos era o que achava. Tiveram três filhos e o romance dos sonhos
terminou após 13 anos. Com os filhos para criar ela começou a trabalhar em
fábrica, costurar para fora, passar roupa, fazer faxina. Assim os anos foram
passando e os meninos crescendo. Com os olhos brilhando ela dizia “Deus me
ajudou muito. Meus meninos nunca tiveram problemas com droga, bebida. Hoje já
estão encaminhados, dois casados e um vai casar em breve. Tenho minha casa
própria e dois netinhos lindos”. Ela contou ainda que além da faxina vende Avon e
Natura, costura alguma coisa e vende pano de prato. “Você deve estar
perguntando, ih essa deve vender até a mãe? Mas minha mãe está lá na terrinha e
ela eu não vendo de jeito nenhum" – disse com um sorriso no rosto.
A companheira que ouvia a história perguntou
para moça “mas você ainda trabalha de diarista? Está com os filhos criados
porque não desacelera?”. A nordestina com sotaque de paulista explicou que não
consegue parar porque agora além das continhas, tem os netos. “Minha filha não
sei ficar em casa. Parece que o dinheiro nunca é suficiente. É conta de gás,
luz, prestação do carnê do meu sapato, da roupa. Assim a gente vai levando! É o
jeitinho brasileiro de viver, né não?”