terça-feira, 24 de novembro de 2015

E se eu fosse eu de outro jeito?



Mudar. Ter paciência. Ser uma pessoa melhor. Viajar. Algumas das minhas anotações em lugares diversos ao longo desse ano. Não era em papel de pão, mas em vários bloquinhos que transitavam nas minhas bolsas – não que eu tenha 20, as quatro que eu usei ao longo desse ano sempre tinham um caderninho e uma caneta.
A música “Paciência”, do Lenine, foi escolhida a dedo para ser a música dos meus 34 anos.

“Mesmo quando tudo pede
Um pouco mais de calma
Até quando o corpo pede
Um pouco mais de alma
A vida não para”

E foi um dia ao levar a minha filha para escola que eu me dei conta que quem precisava parar era eu. Mas como fazer isso se o mundo me acelerava e eu já não conseguia imaginar uma vida diferente? Minha alma estava inquieta e a paz parecia distante. A fé sempre me motivou a buscar o melhor de mim e das pessoas, talvez por rezar tanto que consegui enxergar e ter a coragem necessária para parar.

“Enquanto o tempo
Acelera e pede pressa
Eu me recuso, faço hora
Vou na valsa
A vida é tão rara”

A vida é rara e eu bem sei disso. Eu que já perdi uma vida dentro de mim sei exatamente o que isso significa. E com esse presente divino que é celebrar a vida, mesmo com as cicatrizes que ganhamos ao longo dela, lembrei dos meus sonhos juvenis.  Senti o desejo de mudar algo que parecia imutável e percorrer novos caminhos porque eu precisava recusar essa pressa, essa aceleração.

“Enquanto todo mundo
Espera a cura do mal
E a loucura finge
Que isso tudo é normal
Eu finjo ter paciência”

Eu não queria mais fingir que aquilo tudo era normal, eu não queria mais fingir ter paciência, eu precisava resgatar a paz interior e buscar a cura para minha vida real.

“O mundo vai girando
Cada vez mais veloz
A gente espera do mundo
E o mundo espera de nós
Um pouco mais de paciência”

E o que esperar do mundo? E o que esperar da vida? Um frio na barriga e um medo não podiam me paralisar. Eu precisava tentar, eu precisava mudar, eu precisava recalcular a minha rota e achar um novo destino.  Eu precisava ter paciência comigo e com os meus sonhos.

“Será que é tempo
Que lhe falta pra perceber?
Será que temos esse tempo
Pra perder?
E quem quer saber?
A vida é tão rara
Tão rara”

É difícil perceber que precisamos perder tempo conosco. Mais difícil que perceber, é aceitar a importância em perder esse tempo. Fica a dica para quem não assistiu ainda o Tarja Branca. O ator Domingos Montagner coloca muito bem a importância em perder tempo, em ficar quieto, em parar para não pensar em nada. Quando aceitamos essa condição do ócio na nossa vida conseguimos mudar a nossa relação com o tempo. Não precisa ficar no ócio o dia inteiro, mas alguns minutos que seja sem celular, sem computador, sem televisão faz muita diferença no dia. Eu medito muito menos do que deveria, mas busco cada vez mais colocar isso na minha rotina para perder tempo comigo diariamente.

E se alguém me contasse no final do ano passado, assim que eu tivesse completado meus 34 anos, que quando fosse fazer 35 passaria o dia em casa com minha família e não estaria trabalhando, eu com certeza iria dar uma grande gargalhada. E se alguém me contasse que um dia por decisão própria eu pararia a minha loucura e ficaria em casa por um tempo indeterminado, a minha resposta seria “jamais faria isso, não nasci para ficar cuidando da casa”. E se alguém um dia me contasse que eu voltaria para sala de aula em busca do meu sonho de adolescente, eu daria um sorriso e responderia “até que isso não seria uma má ideia, mas com certeza isso faz parte do meu passado”.


Nada como a maturidade e o tempo para mostrar que as nossas verdades, as nossas decisões são passageiras. E a graça da vida é olhar para traz e ver que ainda bem que eu mudei, penso e ajo diferente. Ainda bem que eu não tenho medo de assumir os meus erros passados e mudar as falas que não cabem mais na minha vida. Ainda bem que eu continuo sonhando e me transformando. A busca em ser uma pessoa melhor é constante. Viajar sempre. Ter mais paciência, já melhorei um bocado. Mudar, ah isso eu posso dizer que fiz e nunca terei medo de fazer apesar do frio na barriga. Chego aos 35 anos com um jeito diferente em ver o mundo e me relacionar com o tempo. Que venham mais histórias, fotos, causos, pessoas e lugares!

sábado, 21 de novembro de 2015

Descobrindo o movimento da vida



- Sabe fazer maquiagem? Imagine um balãozinho na cabeça --- Nunca soube nem passar base em mim direito.
- E um coque que fique na altura média do cabelo, não muito em cima, não muito embaixo? Outro balãozinho – Brincar de cabeleireiro só com as minhas bonecas e no cabelo da minha tia que tinha a maior paciência com as minhas mãozinhas que penteavam aquela cabeleira linda todas as férias.

Para não ficar desesperada manda logo uma mensagem à sua mãe pedindo ajuda com o cabelo, às irmãs lindas querendo todas as dicas de maquiagem. E ao mesmo tempo brigava com os pensamentos – você é capaz. Não é possível que para sua filha não consiga superar esses bloqueios de quem nunca se ligou a esse mundo cor de rosa.

Foram quatro meses de testes para atingir o coque perfeito. Foram quatro meses para entender um dom que jamais teve e conhecer um mundo que nunca fez parte do seu. Não foi apenas a estreia de quem sempre sonhou em ser bailarina (leia-se sempre para uma criança de quase quatro anos que pedia desde que começou a falar), mas a estreia do ballet na vida daquela família. A estreia dos passos delicados, do olhar focado, da busca da marcação no palco e do sorriso no rosto em dançar para vida.

Não poderia ter sido mais especial a escolha do tema. A pequena bailarina estreou dançando a história de Dom Bosco em homenagem ao bicentenário de seu nascimento. A história de quem sempre esteve na história de sua mãe; o jovem com o qual ela sempre se identificou. A estreia da pequena bailarina foi um presente para quem decidiu abraçar a missão da educação depois de anos afastada.

A dança parecia um movimento leve e sincronizado, mas no seu coração era a confirmação que a dança é o movimento da vida. É o movimento de quem está envolvido com ela, com as letras das músicas, com as cores das fantasias, com o mundo que ela apresenta para quem se deixa encantar com os gestos sincronizados e os passos leves.


A mãe foi tomada por uma emoção sem proporção ao saber que a estreia da filha era a sua estreia num mundo que jamais a pertenceu. E a superação aconteceu, o coque saiu perfeito e a maquiagem também. Ela não precisou da ajuda imaginada, só precisou do seu amor e dedicação. À mesma com a qual a filha sempre teve em aprender os passos da tão sonhada dança.

ps.: está na terceira pessoa para não sair as lágrimas do texto igual ao dessa mãe que descobriu com a filha o movimento da vida no mundo da dança!

terça-feira, 17 de novembro de 2015

Triste? Alegre? Medo? Raiva? Nojinho? Alegre?

Perguntas como essas não saem da minha mente desde que resolvi assistir Divertida Mente. E para reforçar a mente questionadora, o filme será o tema da apresentação de fim de ano de minha filha que tem três anos, nove meses e sete dias.
            Faz dias que a observo dialogando com ela mesma – sabe o que é alegria? É estar feliz quando ajuda o amigo, quando ganha um presente do papai e da mamã. E tristeza? É quando faz feiura, briga com o amigo. E de repente não é mais um monólogo: você está feliz? Triste? Qual o nome daquele roxinho mesmo? E eu, medo! Isso, você tem medo? Raiva é o vermelho, né mamãe?
            De repente para quem sempre teve um toque de alegria e tem como objetivo contagiar o mundo com um sorriso e pintar bem colorido com as cores já existentes percebe que não existe alegria sem a tristeza, o medo, a raiva e até o nojinho. Talvez isso possa parecer óbvio, mas para mim foi realmente uma grande reflexão esse filme.  Tanto na forma de encarar o mundo e as suas dores como explicar para minha filha de três anos, nove meses e sete dias como funciona os sentimentos das pessoas. Posso falar pra ela que é normal ficar triste, ao mesmo tempo, que não quero nunca vê-la triste porque hoje entendo que a tristeza dela reflete em mim em proporções imagináveis antes de ser mãe. Eu sei que o crescimento vem com a tristeza, os momentos alegres são muito mais intensos se já experimentamos o sofrimento. Mas como explicar isso para os filhos? Desafio diário vivido e o aprendizado no dia a dia porque esse manual de instrução ainda está em construção.
            O medo pode paralisar! “Não quero que a minha filha seja uma caipira da cidade”. “Ah não, medo de pernilongo. Olha o seu tamanho e o tamanho dele filha.” “Não pode ir no fundo da piscina sozinha, lá é perigoso.” E quando percebo eu estou escolhendo o que a minha filha deve ter medo e o que não deve conforme a minha vivência e a minha percepção de mundo! Justo eu, que já tive medo de bicho-papão por causa da música e de raio porque passei por algumas tempestades na infância que dá arrepio só de lembrar, quero que minha filha não tenha medo de algumas coisas e tenha de outras porque é perigoso. Ainda bem que no filme eles mostram que o medo é importante no quesito segurança, assim me sinto menos detentora do poder de intervenção nas descobertas de minha filha. Afinal não dá para encorajá-la o tempo todo, porque com água não se brinca já dizia meu avô.
            E o nojinho. “Filha que isso falando eca para comida. Se está no prato é para comer porque tem gente que gosta” (essa parte de respeitar a comida aprendi com um alemão uma vez em um restaurante que alguém fez cara feia para comida típica. E ele se fez entender mesmo em alemão, nem precisávamos de tradutor para compreender o quão ofendido ele ficou. Comparou o prato dele com a nossa feijoada – “eu experimentei pela primeira vez sem saber o que era e claro que adorei. Mas mesmo que não tivesse gostado em respeito a quem cozinhou e todas as outras pessoas que comiam com tanto prazer, eu nunca teria feito uma desfeita”).
            Já a raiva, essa eu quero distância. Além de me consumir, esconde a minha alegria de viver e desperta os monstros guardados atrás do belo sorriso (utilizando o elogio que costumo escutar e usando um pouco da vaidade). Eu sempre brinco que participar de reunião de condomínio é despertar o pior que está em mim. No prédio que eu moro não participo porque é um horário que estou sozinha com minha filha, mas esse é um desafio que quero superar nessa minha nova fase em busca de mais serenidade e menos ansiedade. Confesso que nas reuniões que participei nos outros lugares que morei saía péssima, talvez porque eu não conseguisse ter a paciência que eu achava que tinha para vida.
            Deixei a alegria por último porque realmente a considero fundamental em todas as etapas da vida, seja para o amadurecimento, a superação, a curiosidade ou até mesmo para ver o mundo de cabeça para baixo. Não consigo imaginar uma fase da minha vida sem a alegria. Não consigo acordar todos os dias e agradecer a Deus por tudo que reúno na minha vida até aqui sem dar um sorriso, mesmo lembrando que ocorreram muitas tempestades e nesse caso não necessariamente com raios, ventos e trovões. Vou continuar tentando colorir o mundo de todos que convivem comigo, mas cada vez mais entendo o outro, as suas escolhas e as suas histórias.

            Para finalizar e continuar na minha defesa da Alegria um trecho da  música do Almir Sater
Ando devagar porque já tive pressa 
E levo esse sorriso porque já chorei demais Cada um de nós compõe a sua história, Cada ser em si carrega o dom de ser capazde ser feliz”

domingo, 8 de novembro de 2015

Por um mundo mais Tarja Branca

            Se eu pudesse compraria milhares de cópias do documentário Tarja Branca – a revolução que faltava,  dirigido por Cacau Rhoden, e presentearia todos os meus amigos, conhecidos e desconhecidos. Minha vontade é distribuir para quem eu encontrasse na rua.
            O brincar é o tema central, mas engana-se quem encara a brincadeira como coisa de criança. A brincadeira é libertadora e essencial para uma sociedade que está cada vez mais doente. Vamos resgatar o taco, a bolinha de gude, as quadrinhas, o elástico, a corda, o bambolê, a pipa. Que tal formar uma roda e cantar as cantigas juntos com os filhos, com os amigos?



            O filme foi muito bem editado com depoimentos que fazem o espectador perder o fôlego. E depois que acaba a sensação pode variar entre a reflexão de vida e um otimismo que é possível construirmos uma sociedade melhor se resgatarmos a criança que mora dentro de cada um. Eu queria escrever e debater cada tópico, cada frase, mas acho que talvez pudesse sugestionar quem for assistir.
            Talvez o documentário me marcou tanto porque estou em uma fase de mudanças internas e externas. Talvez porque esteja diretamente envolvida com crianças na vida pessoal e profissional. Talvez porque sempre fui otimista e acreditei que podemos mudar e recalcular a rota em qualquer época da vida. Talvez porque nunca perdi de vista a criança que mora aqui dentro embora algumas vezes deixei-a adormecer, mas a curiosidade e o novo sempre me moveram. Talvez porque a minha alegria de viver sempre superou cada cicatriz que ganhei ao longo da vida. Talvez porque eu ame o Brasil e ver um documentário brasileiro só reforçou a minha teoria que o nosso povo é alegre, criativo e busca ser feliz...
            Aprendo diariamente que um dominó pode virar uma ótima comida, uma carta de baralho pode virar um pão, uma bolinha de papel de revista amarrada numa lã vira o Aquário, um cachorrinho que pode ir para qualquer lugar. Gratidão por viver cada vez num mundo de fantasia, sem perder a minha visão crítica de mundo, mas ao mesmo tempo sem me contagiar por uma mídia cada vez mais mal-humorada.

            Deixe um pouco os preconceitos de lado e permita-se uma dose de brincadeira para que a vida se torne mais leve mesmo com os desafios diários a enfrentar.  Segue o link para o trailer oficial