terça-feira, 17 de novembro de 2015

Triste? Alegre? Medo? Raiva? Nojinho? Alegre?

Perguntas como essas não saem da minha mente desde que resolvi assistir Divertida Mente. E para reforçar a mente questionadora, o filme será o tema da apresentação de fim de ano de minha filha que tem três anos, nove meses e sete dias.
            Faz dias que a observo dialogando com ela mesma – sabe o que é alegria? É estar feliz quando ajuda o amigo, quando ganha um presente do papai e da mamã. E tristeza? É quando faz feiura, briga com o amigo. E de repente não é mais um monólogo: você está feliz? Triste? Qual o nome daquele roxinho mesmo? E eu, medo! Isso, você tem medo? Raiva é o vermelho, né mamãe?
            De repente para quem sempre teve um toque de alegria e tem como objetivo contagiar o mundo com um sorriso e pintar bem colorido com as cores já existentes percebe que não existe alegria sem a tristeza, o medo, a raiva e até o nojinho. Talvez isso possa parecer óbvio, mas para mim foi realmente uma grande reflexão esse filme.  Tanto na forma de encarar o mundo e as suas dores como explicar para minha filha de três anos, nove meses e sete dias como funciona os sentimentos das pessoas. Posso falar pra ela que é normal ficar triste, ao mesmo tempo, que não quero nunca vê-la triste porque hoje entendo que a tristeza dela reflete em mim em proporções imagináveis antes de ser mãe. Eu sei que o crescimento vem com a tristeza, os momentos alegres são muito mais intensos se já experimentamos o sofrimento. Mas como explicar isso para os filhos? Desafio diário vivido e o aprendizado no dia a dia porque esse manual de instrução ainda está em construção.
            O medo pode paralisar! “Não quero que a minha filha seja uma caipira da cidade”. “Ah não, medo de pernilongo. Olha o seu tamanho e o tamanho dele filha.” “Não pode ir no fundo da piscina sozinha, lá é perigoso.” E quando percebo eu estou escolhendo o que a minha filha deve ter medo e o que não deve conforme a minha vivência e a minha percepção de mundo! Justo eu, que já tive medo de bicho-papão por causa da música e de raio porque passei por algumas tempestades na infância que dá arrepio só de lembrar, quero que minha filha não tenha medo de algumas coisas e tenha de outras porque é perigoso. Ainda bem que no filme eles mostram que o medo é importante no quesito segurança, assim me sinto menos detentora do poder de intervenção nas descobertas de minha filha. Afinal não dá para encorajá-la o tempo todo, porque com água não se brinca já dizia meu avô.
            E o nojinho. “Filha que isso falando eca para comida. Se está no prato é para comer porque tem gente que gosta” (essa parte de respeitar a comida aprendi com um alemão uma vez em um restaurante que alguém fez cara feia para comida típica. E ele se fez entender mesmo em alemão, nem precisávamos de tradutor para compreender o quão ofendido ele ficou. Comparou o prato dele com a nossa feijoada – “eu experimentei pela primeira vez sem saber o que era e claro que adorei. Mas mesmo que não tivesse gostado em respeito a quem cozinhou e todas as outras pessoas que comiam com tanto prazer, eu nunca teria feito uma desfeita”).
            Já a raiva, essa eu quero distância. Além de me consumir, esconde a minha alegria de viver e desperta os monstros guardados atrás do belo sorriso (utilizando o elogio que costumo escutar e usando um pouco da vaidade). Eu sempre brinco que participar de reunião de condomínio é despertar o pior que está em mim. No prédio que eu moro não participo porque é um horário que estou sozinha com minha filha, mas esse é um desafio que quero superar nessa minha nova fase em busca de mais serenidade e menos ansiedade. Confesso que nas reuniões que participei nos outros lugares que morei saía péssima, talvez porque eu não conseguisse ter a paciência que eu achava que tinha para vida.
            Deixei a alegria por último porque realmente a considero fundamental em todas as etapas da vida, seja para o amadurecimento, a superação, a curiosidade ou até mesmo para ver o mundo de cabeça para baixo. Não consigo imaginar uma fase da minha vida sem a alegria. Não consigo acordar todos os dias e agradecer a Deus por tudo que reúno na minha vida até aqui sem dar um sorriso, mesmo lembrando que ocorreram muitas tempestades e nesse caso não necessariamente com raios, ventos e trovões. Vou continuar tentando colorir o mundo de todos que convivem comigo, mas cada vez mais entendo o outro, as suas escolhas e as suas histórias.

            Para finalizar e continuar na minha defesa da Alegria um trecho da  música do Almir Sater
Ando devagar porque já tive pressa 
E levo esse sorriso porque já chorei demais Cada um de nós compõe a sua história, Cada ser em si carrega o dom de ser capazde ser feliz”

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