Perguntas
como essas não saem da minha mente desde que resolvi assistir Divertida Mente. E
para reforçar a mente questionadora, o filme será o tema da apresentação de fim
de ano de minha filha que tem três anos, nove meses e sete dias.
Faz dias que a observo dialogando
com ela mesma – sabe o que é alegria? É estar feliz quando ajuda o amigo,
quando ganha um presente do papai e da mamã. E tristeza? É quando faz feiura,
briga com o amigo. E de repente não é mais um monólogo: você está feliz? Triste?
Qual o nome daquele roxinho mesmo? E eu, medo! Isso, você tem medo? Raiva é o
vermelho, né mamãe?
De repente para quem sempre teve um
toque de alegria e tem como objetivo contagiar o mundo com um sorriso e pintar
bem colorido com as cores já existentes percebe que não existe alegria sem a
tristeza, o medo, a raiva e até o nojinho. Talvez isso possa parecer óbvio, mas
para mim foi realmente uma grande reflexão esse filme. Tanto na forma de encarar o mundo e as suas
dores como explicar para minha filha de três anos, nove meses e sete dias como
funciona os sentimentos das pessoas. Posso falar pra ela que é normal ficar
triste, ao mesmo tempo, que não quero nunca vê-la triste porque hoje entendo
que a tristeza dela reflete em mim em proporções imagináveis antes de ser mãe. Eu
sei que o crescimento vem com a tristeza, os momentos alegres são muito mais
intensos se já experimentamos o sofrimento. Mas como explicar isso para os
filhos? Desafio diário vivido e o aprendizado no dia a dia porque esse manual
de instrução ainda está em construção.
O medo pode paralisar! “Não quero que
a minha filha seja uma caipira da cidade”. “Ah não, medo de pernilongo. Olha o
seu tamanho e o tamanho dele filha.” “Não pode ir no fundo da piscina sozinha,
lá é perigoso.” E quando percebo eu estou escolhendo o que a minha filha deve
ter medo e o que não deve conforme a minha vivência e a minha percepção de
mundo! Justo eu, que já tive medo de bicho-papão por causa da música e de raio
porque passei por algumas tempestades na infância que dá arrepio só de lembrar,
quero que minha filha não tenha medo de algumas coisas e tenha de outras porque
é perigoso. Ainda bem que no filme eles mostram que o medo é importante no
quesito segurança, assim me sinto menos detentora do poder de intervenção nas
descobertas de minha filha. Afinal não dá para encorajá-la o tempo todo, porque
com água não se brinca já dizia meu avô.
E o nojinho. “Filha que isso falando
eca para comida. Se está no prato é para comer porque tem gente que gosta”
(essa parte de respeitar a comida aprendi com um alemão uma vez em um
restaurante que alguém fez cara feia para comida típica. E ele se fez entender
mesmo em alemão, nem precisávamos de tradutor para compreender o quão ofendido
ele ficou. Comparou o prato dele com a nossa feijoada – “eu experimentei pela
primeira vez sem saber o que era e claro que adorei. Mas mesmo que não tivesse
gostado em respeito a quem cozinhou e todas as outras pessoas que comiam com
tanto prazer, eu nunca teria feito uma desfeita”).
Já a raiva, essa eu quero distância.
Além de me consumir, esconde a minha alegria de viver e desperta os monstros
guardados atrás do belo sorriso (utilizando o elogio que costumo escutar e
usando um pouco da vaidade). Eu sempre brinco que participar de reunião de
condomínio é despertar o pior que está em mim. No prédio que eu moro não
participo porque é um horário que estou sozinha com minha filha, mas esse é um
desafio que quero superar nessa minha nova fase em busca de mais serenidade e
menos ansiedade. Confesso que nas reuniões que participei nos outros lugares
que morei saía péssima, talvez porque eu não conseguisse ter a paciência que eu
achava que tinha para vida.
Deixei a alegria por último porque
realmente a considero fundamental em todas as etapas da vida, seja para o
amadurecimento, a superação, a curiosidade ou até mesmo para ver o mundo de
cabeça para baixo. Não consigo imaginar uma fase da minha vida sem a alegria.
Não consigo acordar todos os dias e agradecer a Deus por tudo que reúno na
minha vida até aqui sem dar um sorriso, mesmo lembrando que ocorreram muitas
tempestades e nesse caso não necessariamente com raios, ventos e trovões. Vou
continuar tentando colorir o mundo de todos que convivem comigo, mas cada vez
mais entendo o outro, as suas escolhas e as suas histórias.
Para finalizar e continuar na minha
defesa da Alegria um trecho da música do
Almir Sater
“Ando devagar porque já tive pressa
E levo esse sorriso porque já chorei demais Cada um de nós compõe a sua história, Cada ser em si carrega o dom de ser capazde ser feliz”
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