Mudar.
Ter paciência. Ser uma pessoa melhor. Viajar. Algumas das minhas anotações em
lugares diversos ao longo desse ano. Não era em papel de pão, mas em vários
bloquinhos que transitavam nas minhas bolsas – não que eu tenha 20, as quatro
que eu usei ao longo desse ano sempre tinham um caderninho e uma caneta.
A
música “Paciência”, do Lenine, foi escolhida a dedo para ser a música dos meus
34 anos.
“Mesmo
quando tudo pede
Um
pouco mais de calma
Até
quando o corpo pede
Um
pouco mais de alma
A
vida não para”
E
foi um dia ao levar a minha filha para escola que eu me dei conta que quem
precisava parar era eu. Mas como fazer isso se o mundo me acelerava e eu já não
conseguia imaginar uma vida diferente? Minha alma estava inquieta e a paz
parecia distante. A fé sempre me motivou a buscar o melhor de mim e das pessoas,
talvez por rezar tanto que consegui enxergar e ter a coragem necessária para
parar.
“Enquanto
o tempo
Acelera
e pede pressa
Eu
me recuso, faço hora
Vou
na valsa
A
vida é tão rara”
A
vida é rara e eu bem sei disso. Eu que já perdi uma vida dentro de mim sei exatamente
o que isso significa. E com esse presente divino que é celebrar a vida, mesmo
com as cicatrizes que ganhamos ao longo dela, lembrei dos meus sonhos juvenis. Senti o desejo de mudar algo que parecia
imutável e percorrer novos caminhos porque eu precisava recusar essa pressa,
essa aceleração.
“Enquanto
todo mundo
Espera
a cura do mal
E
a loucura finge
Que
isso tudo é normal
Eu
finjo ter paciência”
Eu
não queria mais fingir que aquilo tudo era normal, eu não queria mais fingir
ter paciência, eu precisava resgatar a paz interior e buscar a cura para minha
vida real.
“O
mundo vai girando
Cada
vez mais veloz
A
gente espera do mundo
E
o mundo espera de nós
Um
pouco mais de paciência”
E
o que esperar do mundo? E o que esperar da vida? Um frio na barriga e um medo
não podiam me paralisar. Eu precisava tentar, eu precisava mudar, eu precisava
recalcular a minha rota e achar um novo destino. Eu precisava ter paciência comigo e com os
meus sonhos.
“Será
que é tempo
Que
lhe falta pra perceber?
Será
que temos esse tempo
Pra
perder?
E
quem quer saber?
A
vida é tão rara
Tão
rara”
É
difícil perceber que precisamos perder tempo conosco. Mais difícil que
perceber, é aceitar a importância em perder esse tempo. Fica a dica para quem
não assistiu ainda o Tarja Branca. O ator Domingos Montagner coloca muito bem a
importância em perder tempo, em ficar quieto, em parar para não pensar em nada.
Quando aceitamos essa condição do ócio na nossa vida conseguimos mudar a nossa
relação com o tempo. Não precisa ficar no ócio o dia inteiro, mas alguns
minutos que seja sem celular, sem computador, sem televisão faz muita diferença
no dia. Eu medito muito menos do que deveria, mas busco cada vez mais colocar
isso na minha rotina para perder tempo comigo diariamente.
E
se alguém me contasse no final do ano passado, assim que eu tivesse completado
meus 34 anos, que quando fosse fazer 35 passaria o dia em casa com minha
família e não estaria trabalhando, eu com certeza iria dar uma grande
gargalhada. E se alguém me contasse que um dia por decisão própria eu pararia a
minha loucura e ficaria em casa por um tempo indeterminado, a minha resposta
seria “jamais faria isso, não nasci para ficar cuidando da casa”. E se alguém
um dia me contasse que eu voltaria para sala de aula em busca do meu sonho de
adolescente, eu daria um sorriso e responderia “até que isso não seria uma má
ideia, mas com certeza isso faz parte do meu passado”.
Nada
como a maturidade e o tempo para mostrar que as nossas verdades, as nossas
decisões são passageiras. E a graça da vida é olhar para traz e ver que ainda
bem que eu mudei, penso e ajo diferente. Ainda bem que eu não tenho medo de
assumir os meus erros passados e mudar as falas que não cabem mais na minha
vida. Ainda bem que eu continuo sonhando e me transformando. A busca em ser uma
pessoa melhor é constante. Viajar sempre. Ter mais paciência, já melhorei um
bocado. Mudar, ah isso eu posso dizer que fiz e nunca terei medo de fazer
apesar do frio na barriga. Chego aos 35 anos com um jeito diferente em ver o
mundo e me relacionar com o tempo. Que venham mais histórias, fotos, causos,
pessoas e lugares!
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