Para quem não me conhece, breve introdução:
não faço o estilo bailarina, nunca levei jeito para dança e nem sou a
graciosidade em pessoa no quesito expressão corporal. Quando a Sofia nasceu
relutei no rosa, escolhi lilás como a cor do quarto. Nada contra o rosa, era só
uma questão de estilo já que na minha cabeça o rosa é para bailarina e, como já
disse, isso nunca fez parte do meu mundo. Mas depois que você vira mãe de
menina não existe a opção não gostar de roupa rosa, sapato rosa, calça rosa,
blusa rosa, bota rosa. E a pequena desde que se entende por gente pede para
fazer ballet.
Vida corrida, horários divergentes, ou melhor,
falta de horário para qualquer coisa. Imagine conseguir leva-la na aula de
ballet às 17h40? Impensável há alguns meses. Fora de cogitação. As avós
tentaram ver perto de suas casas, mas antes dos quatro anos nada feito.
Quando decidi mudar minha vida, a
primeira coisa que prometi foi coloca-la no ballet da escola, às 17h40. No
primeiro dia de aula, fui fazer a matrícula. Com um sorriso no rosto, a moça me
disse “pode começar amanhã. Ah mãe, traga ela de colan, cabelo amarrado e
sapatilhas.” Agradeci e fiquei feliz em realizar o sonho da minha filha e o
meu, em estar mais perto dela. Voltando para casa me dei conta “eu nunca
vivenciei um mundo de bailarina, onde encontro tudo isso? Desempregada não dá
simplesmente para ir ao shopping e comprar (nem sei se isso vende no shopping,
mais uma vez a ignorância em relação ao tema)”. Nada como ter amiga mãe de
bailarina e obter todas as informações necessárias, como o local com preço bom
e o melhor material do colan (primeira lição para a mãe de primeira viagem).
A compra foi um sucesso. Ela nem
queria tirar a roupa para pagar. “Mamãe eu já sei fazer ballet” e levantava os
bracinhos, rodopiava e ficava nas pontas dos pés. Eu comecei a me preocupar se
a aula seria frustrante porque na cabecinha dela com a roupa completa, ela já
era uma bailarina.
Segunda lição: a aula tem
praticamente o mesmo tempo que a arrumação da criança. Meia-calça, colan,
coque, sapatilha, coque cai, arruma coque, esquece a faixa do cabelo, tira
coque, coloca a faixa, refaz o coque. Ufa, tudo pronto! Chegamos à escola uns
minutinhos antes “mamãe não estou vendo nenhuma amiguinha bailarina”. Quando
abriu o portão, ela já estava muito ansiosa e eu mais ainda. Estava com medo de
não ser nada do jeito que ela sonhou e imaginou nesse tempo todo. Não sabia se
iam me deixar entrar.
De
repente surgem várias minis bailarinas saltitantes. E eu sinto uma mãozinha e
um suspiro “mamãe, você vai comigo né?” A professora muito solicita autorizou
minha entrada e permitiu meu momento mãe paparazzi.
Não consigo achar palavras para
descrever o momento mágico que presenciei na vida da minha filha. Olhinhos
brilhantes, atenta às explicações, alheia a minha presença e compenetrada em
cada exercício. Felicidade registrada primeiro no meu coração, depois na minha
memória, ah sim, eu poderia tirar fotos, então peguei o celular e registrei
para compartilhar com o pai dela e todos que sempre a escutaram falando o
quanto queria fazer ballet.
Depois dessa aula eu entendi o que é
ser mãe de bailarina. O que é ter uma filha com esse dom. Eu aprendi mais uma
lição importante: bailarinas nascem bailarinas. Não que pessoas, como eu, não
possam aprender e se tornarem uma bailarina profissional (desafio lançado,
porque no meu caso acho pouco provável uma solução plausível). Como já disse,
eu não sei explicar, só sei fechar os olhos e ver minha filha rodopiando no
final da aula sorrindo com os lábios e com os olhos. E que venham as novas
lições. Para quem escolheu a cor lilás, já entendeu que o mundo cor de rosa vai
predominar.