O vento era daquele de doer os ossos. Por mais agasalhada que estivesse, sentia que eu ia congelar. Lembro que escolhi colocar as botas para sentir meus pés mais aquecidos, peguei as luvas e o gorro, até cachecol eu estava usando.
Durante o trajeto para pegar o ônibus sempre me deparava com várias pessoas. O faxineiro do prédio ao lado que gritava bom dia, mulheres que andavam apressadas para seus trabalhos, professoras, crianças, ciclistas. Se fechasse os olhos saberia descrever exatamente quem eu encontraria na próxima esquina.
Uma loja de produtos de fisioterapia era uma de minhas distrações. Não que eu quisesse comprar algo lá, mesmo porque pelo horário, nem aberta estava. Achava divertido encontrar as três amigas que iam ao trabalho juntas. Parecia um ritual, elas passavam por ali no mesmo horário e se olhavam no vidro. Uma espécie de espelho no meio da rua. Elas ignoravam se havia outra pessoa olhando, o importante era checar se estava tudo certo.
Alguns adolescentes que estudavam ali perto pareciam não se incomodar com o frio e foi nesse ponto que senti meus ossos quase congelando. Como poderia aquela garota estar só com uma camiseta de manga longa e o menino sem casaco. Não era falta de recursos, eles estudavam em colégio particular. O grupo vinha na minha direção e percebi que minha indignação era compartilhada por seus amigos. Antes mesmo das 7h30, um já gritava “mano, você vai congelar”, o outro respondia “que nada, alguma mina vai me emprestar o casaco”.
Nessa hora me dei conta que o ser humano é um mistério mesmo. Nunca na minha vida eu teria uma ideia dessa, passaria frio, só para chamar atenção de alguém. Olhei para mim e ri, o frio até amenizou. O caminho ao ponto de ônibus foi um passeio pelos meus pensamentos e por isso o tempo de espera pareceu encurtar. O frio já tinha ficado para fora e eu estava seguindo para o trabalho.
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