Imagino
que ao ler isso vem uma sensação esquisita, afinal o Natal já foi embora e o
Carnaval está aí... Eu sei disso e podem ficar tranquilos o calor ainda não
fritou os meus miolos...
Essa
é uma história minha que nesse momento quero compartilhar. Uma percepção
infantil que me acompanhou durante minha vida e com certeza ficará para sempre
na minha história. Afinal não é para qualquer um crescer ao lado de um Papai Noel
lindo, barbudo como nos filmes e com olhos verdes tão expressivos que falavam
por si só. É assim que gosto de lembrar do meu avô, como o meu bom velhinho.
Embora ele não fosse tão bonzinho assim, porque sempre tinha algo a dizer e era
algo que nem se eu ficasse pensando por dias nunca viria a minha mente, ainda
mais na velocidade que ele falava. Ele sempre tinha o que falar, porque seu
senso de humor foi um de seus dons e nos acostumamos a isso e no fundo queríamos
ouvir o seu palpite e até provocávamos situações só para ver o que vinha.
Quando
criança eu e minha irmã mais velha íamos passar as férias de dezembro no
apartamento de meus avós. Achava muito engraçado ver meu avô fazendo a nossa
comida. Sim ele quem preparava tudo e fazia as nossas vontades, sabia o que
cada neto gostava e tentava sempre agradar a todos. O que normalmente as avós
fazem nós tínhamos o nosso vô (minha avó tem outros dons, mas realmente
cozinhar e nos paparicar com comida ele sabia fazer isso como ninguém). Lembro
uma vez que meu avô precisou ir para rádio mais cedo e quem fez o almoço foi
minha avó, olhei espantada para ela “mas você sabe cozinhar?” Ela riu e disse
que sim – o meu espanto foi grande porque meu avô dizia pra gente que ela não
sabia fazer nada na cozinha. Adorava ir ao estúdio de rádio vê-lo trabalhar,
lógico que nossos ataques de riso eram sempre na hora que estava com a luz
vermelha para não falarmos. Outro programa preferido por nós duas era passear
nos shoppings para ver a decoração de Natal, ir até a Paulista de noite, ver
São Paulo enfeitada e eu sempre pensava “vamos ver o Natal com o Papai Noel
dirigindo o carro”.
Um
dia que eu me senti muito importante foi quando meu avô mesmo não gostando
muito de circo me levou em um e depois do espetáculo saímos para jantar numa
cantina italiana. Em casa não tínhamos o costume de jantar em restaurante,
imagina então comer depois de uma apresentação circense. E as brincadeiras na
piscina que ele inventava, deixava a gente fazer arte na banheira. O que ele
não perdoava era falarmos errado, isso ele corrigia na hora e era motivo de
piada pronta para as férias todas. A minha irmã mais nova que o diga com a
Boroleta na palavra cruzada.
O
seu sorriso sempre foi contagiante e por isso tornava cada momento uma festa
constante. Era olhar para ele e ter vontade de abraçá-lo sem parar. Mesmo
quando ele dizia que eu tinha quebrado a televisão e eu jurava chorando que não
tinha sido eu. Ele sabia que não tinha sido, mas gostava de fazer a piada.
Tanto que mesmo depois de adulta ele contou ao meu marido “sabia que um dia ela
me bateu porque quebrou a televisão”. Ai meu vozinho lindo como é difícil saber
que não irei mais receber suas mensagens no celular, que não ouvirei as piadas
que você decorava para nos contar, nem que ao chegar em São Paulo teremos mais aquele
vozerão que encantava a todos e cantarolava músicas dos mais diversos cantores.
Ainda bem que curtimos muitos momentos especiais, que registramos muita coisa
com fotos e principalmente na memória. Espero você no Natal, porque como nos
ensinou a olhar as estrelas tenho certeza que o reconhecerei e mostrarei para
nossa tão esperada princesinha que o bisa está lá de cima vendo tudo, rindo de
tudo como sempre, daquele jeito que só você sabe fazer...
belo e singelo texto ... gostei.
ResponderExcluirObrigada pelo comentário. O texto retrata o meu sentimento em relação ao meu querido avô que hoje nos vê lá de cima, acredito verdadeiramente nisso.
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