Hoje lembrei uma das minhas aventuras pelo
Brasil afora. Fui visitar um casal muito querido em Santarém. Ela dava aulas em
comunidades distantes. Decidi acompanhá-la para conhecer um Brasil bem diferente
da realidade de quem vive na região sudeste. Lá fomos nós com nossas redes. Uma
experiência maravilhosa para quem gosta de conhecer novas culturas. No barco
você escolhe onde quer colocar a rede e ali vira o seu local de viagem. Nós
tínhamos só uma mochila, mas tinha gente que levava galinha, mudança, uma
merenda pra mais de mês. Chegamos de
madrugada no vilarejo. Estava tudo escuro e a moça quem eu acompanhava tinha
combinado de alguém da escola ir buscá-la, mas não tinha ninguém nos esperando.
Ela perguntou para uma mulher que aguardava alguém que viria em outro barco
onde pegávamos um táxi para ir ao hotel da cidade. Parecia que ela estava
falando algo absurdo, na verdade estava mesmo – “moça acho que você não
entendeu, aqui não tem carro, e hotel é do outro lado da vila. Já que você é
professora fica na pousada ali na frente”. Lá fomos nós para a pousada, quando
chegamos rimos para não chorar. Ainda bem que meu espírito aventureiro sempre
me deixa de bom humor. Era uma casa que não tinha nada, na verdade tinham os
ganchos para colocar as redes, banheiro e cozinha comunitária. Luz elétrica nem
pensar. Ainda bem que a lua ajudava a enxergar tudo.
Sol raiando e as professoras falando pelos
cotovelos nos mostraram que o dia começara. Lá fomos nós procurar o hotel. A
essa altura já imaginava como seria o hotel. Chegamos e tinha um quarto vago,
mas só com uma cama. Claro que tinha gancho na parede e eu que tenho o espírito
de aventura me propus a dormir na rede. Mesmo porque sempre gostei de rede,
acho que meu sangue indígena fala mais alto.
Instaladas fomos conhecer a vila já que as
aulas da moça só seriam dadas de tarde. Descobrimos que não era só carro um
sonho distante, mas também coleta de lixo, de esgoto e emprego. A maioria das pessoas
trabalhava na prefeitura e como esta não pagava há mais de 4 meses, o povo
sobrevivia com os peixes pescados no rio, água de coco e farinha. Descobrimos
um restaurante bem simples que servia todas as refeições, uma das melhores comidas
que já encontrei. Simplicidade com um tempero sem igual era a receita do
sucesso.
Voltando ao nosso hotel - que na verdade era
uma casa adaptada - me chamou a atenção um dos hóspedes. O moço vinha da cidade
grande e trazia na bagagem óculos e mercadorias para aqueles moradores. Parecia
uma espécie de muambeiro. Não tinha nem como sentir pena daquelas pessoas
porque a alegria delas em viver mostrava que inventamos muitos acessórios em
nosso dia a dia, a simplicidade da vida não precisa ser comprada está ali no rio
e no coqueiro. Agradeço todos os dias por conhecer um pouco deste Brasil tão
distante do meu, espero que hoje em dia aquelas pessoas tenham saneamento
básico e mais qualidade de vida dentro da simplicidade deles.
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