domingo, 23 de janeiro de 2011

Vai que ela desconfie...


Andar de ônibus tem sempre uma boa história para contar. Não preciso nem buscar os causos, parece que eles simplesmente me encontram e quando menos espero já estou participando deles. Muitas vezes de observadora e outras de coadjuvante.
Nesse dia em especial saí tarde do trabalho e estava com fome. Sabia que a viagem ainda seria longa porque pelo horário precisaria esperar na rodoviária um tempo até o meu ônibus vir. Foi quando decidi parar e comprar um salgadinho light, se é que podemos classificá-lo dessa forma. Para acompanhar meu pacotinho de salgadinhos assados light comprei um suco de soja e fui para plataforma esperar o meu ônibus.
Na fila normalmente fico de olho para saber quem serão meus companheiros de viagem. Fico observando para saber se compensa sentar sozinha e arriscar alguém escolher o banco ao lado do meu, ou se eu sento com alguém que já vi na fila. No final do dia normalmente quero ir quietinha e por isso vejo se a pessoa com que vou sentar irá puxar conversa ou não. E em meio a esses meus pensamentos percebo que alguém me olhava. Esse alguém era um menino de colo. Ele estava atento a mim, enquanto sua mãe conversava com outra pessoa. Mesmo no colo da mãe, e ela se mexendo o menino não tirava os olhos de mim. Demorou alguns minutos para eu perceber que não era exatamente de mim que ele não tirava os olhos, era de meu salgadinho light. Talvez o formato chamasse a atenção do pequeno menino, ou a embalagem, ou até mesmo o prazer que eu sentia em comê-los depois de um longo dia de trabalho. De qualquer forma ele também poderia estar com fome como eu. Foi quando me aproximei da mãe dele e perguntei se ele não queria um pouco. Ela disse que não, ele tinha mamado fazia pouco tempo e tinha comida na bolsa.
Voltei para o meu lugar e quando a fila começou finalmente a andar, a mulher, com a criança no colo, aproximou-se de mim e disse “moça vou aceitar um salgadinho pra ele, tenho dinheiro pra comprar um igual, mas estou com medo dele desconfiá”.
Entreguei o que tinha no meu pacote semi devorado e subi no ônibus. Ao sentar fiquei lembrando da mulher falando que a criança podia desconfiá, isso me trouxe memórias de infância e por isso não me assustei com o termo usado por ela. Quando íamos para roça, muitas vezes ouvia as mães dizendo que se a criança não comesse aquilo que estava vendo podia desconfiá e ficar doente. Não sei bem da onde vem o termo, mas o melhor mesmo é não deixar a criança perceber que aquilo não era bem o que ela gostaria. Vai que ela desconfie, né não?

2 comentários:

  1. Eu si mi alembru que quando um caboclo ficava desconfiado é porque podia dar bicha... :)

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  2. Boa, Adauto! Esqueci que podia dar bicha! hahaha

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