sábado, 28 de maio de 2011

Um dia frio...


O vento era daquele de doer os ossos. Por mais agasalhada que estivesse, sentia que eu ia congelar. Lembro que escolhi colocar as botas para sentir meus pés mais aquecidos, peguei as luvas e o gorro, até cachecol eu estava usando.
Durante o trajeto para pegar o ônibus sempre me deparava com várias pessoas. O faxineiro do prédio ao lado que gritava bom dia, mulheres que andavam apressadas para seus trabalhos, professoras, crianças, ciclistas. Se fechasse os olhos saberia descrever exatamente quem eu encontraria na próxima esquina.
Uma loja de produtos de fisioterapia era uma de minhas distrações. Não que eu quisesse comprar algo lá, mesmo porque pelo horário, nem aberta estava. Achava divertido encontrar as três amigas que iam ao trabalho juntas. Parecia um ritual, elas passavam por ali no mesmo horário e se olhavam no vidro. Uma espécie de espelho no meio da rua. Elas ignoravam se havia outra pessoa olhando, o importante era checar se estava tudo certo.
Alguns adolescentes que estudavam ali perto pareciam não se incomodar com o frio e foi nesse ponto que senti meus ossos quase congelando. Como poderia aquela garota estar só com uma camiseta de manga longa e o menino sem casaco. Não era falta de recursos, eles estudavam em colégio particular. O grupo vinha na minha direção e percebi que minha indignação era compartilhada por seus amigos. Antes mesmo das 7h30, um já gritava “mano, você vai congelar”, o outro respondia “que nada, alguma mina vai me emprestar o casaco”.
Nessa hora me dei conta que o ser humano é um mistério mesmo. Nunca na minha vida eu teria uma ideia dessa, passaria frio, só para chamar atenção de alguém. Olhei para mim e ri, o frio até amenizou. O caminho ao ponto de ônibus foi um passeio pelos meus pensamentos e por isso o tempo de espera pareceu encurtar. O frio já tinha ficado para fora e eu estava seguindo para o trabalho.

domingo, 22 de maio de 2011

Direto do fundo do mar

Já escrevi sobre minha paixão por mergulhar. Gosto de sentir o frio na barriga antes de cair na água, de checar os equipamentos de segurança e de pular no mar com toda parefernália que permite respirar em baixo d´água. A vontade de ver o mundo escondido no oceano é a adrenalina necessária para enfrentar o enjoo do barco, a água fria e o medo natural do novo. Faz tempo que não vivo essa experiência, mas hoje ao mexer nos meus arquivos achei uma foto que eu tirei num dos meus últimos mergulhos. Com as imagens revivi esses momentos mágicos no oceano. Talvez eu nunca consiga explicar como é bom estar com peixes, tartarugas e vendo uma paisagem muito diferente da que estamos acostumados no dia a dia. Por isso vou postar uma foto para que cada um tente viver essa sensação de liberdade e de superação.

segunda-feira, 16 de maio de 2011

Olha o trem...


Era outono na Holanda, a paisagem parecia realmente de filme. Folhas no chão, frio, céu azul, uma mistura de tons amarelos e marrons. O cenário perfeito para um casal que passeava pela primeira vez na Europa. O casal era brasileiro e para não cometer o erro que muitos fazem, os dois chegaram à estação de trem com mais de 30 minutos antes da saída. Sim, a passagem marcava 11h58 e como o destino era Paris, eles não queriam perder o trem de jeito nenhum.
Ele tinha o inglês fluente, então o idioma não era barreira, apesar de estarem na Holanda todos falavam inglês. Os dois se certificaram de qual era a plataforma de embarque e foram elogiados por estarem antes do horário. O guarda da estação brincou “parabéns a vocês por já estarem aqui, muitos turistas perdem trem porque acham que o horário não é bem o que está marcado na passagem”. Sentados a espera do trem, os dois foram abordados pelo mesmo guarda que os elogiou “vocês vão para Paris, né?” antes mesmo da resposta ele disse “então subam nesse trem e desçam na terceira parada, certo?”. Os dois mal tiveram tempo de checar a informação e o guarda os empurrou para o trem. Ainda não era o horário da passagem, o trem estava adiantado. Como o alto falante estava ruim, eles só conseguiram entender Paris. Andaram diversas estações, mas não havia parada em nenhuma delas. A moça começava a ficar aflita, mas o rapaz acalmou-a dizendo que estavam de férias e daria tudo certo.
Quando foi feita a segunda parada, eles já ficaram em pé para descer na outra estação que demorou mais uns 10 ou 15 minutos. Mais uma vez o alto falante não ajudou muito, mas o pouco que eles entenderam era para descer ali quem estivesse seguindo a Paris. Pelo menos a informação do guarda batia.
Eles desceram e agora parecia cena de filme, não diria que de terror, mas suspense. A estação era no meio do nada. O quiosque de informação ao turista estava fechado e para todos os funcionários que eles perguntavam qual era a plataforma de embarque a Paris, a reposta era desencontrada. Uns diziam que era de um lado da estação, os outros que não passava trem para Paris naquele lugar. O tempo começou a passar e nada de trem. Eles resolveram perguntar no câmbio e a mulher pediu que os dois fossem até o guichê de passagens. A moça chegou ao local e já foi logo perguntando qual era a plataforma, mas a resposta veio bem ao estilo europeu “por favor senhora entre na fila”. A fila parecia nunca andar, quando finalmente os dois foram atendidos, a senhora que os atendia insistia em dizer que lá nunca passou trem para Paris. Mesmo com o inglês do rapaz melhor, a moça insistia em dizer que foi o guarda que tinha dito para descerem lá e pegar o trem. Devido à insistência da moça, a mulher ligou e confirmou a informação com a central. Ela mal desligara o telefone e já pedia desculpas ao casal, pois naquele dia excepcionalmente, ou melhor, naquele minuto estava passando um trem para Paris. Os dois saíram correndo e a moça como em desenho animado tentava chegar ao trem que estava partindo. E gritava “pare, por favor”. Mas como já dito anteriormente, na Europa o trem não espera. Ela inconformada voltou correndo ao guichê e disse “perdemos”, a senhora “está brincando” e a moça “não”, já com os olhos cheios de lágrimas.  A senhora se desculpou mais uma vez, mas pediu que os dois entrassem na fila novamente para os ajudarem no caso.

sexta-feira, 6 de maio de 2011

Outono

Um dia de outono em Paris. Ao invés de uma história, a imagem de um passeio inesquecível.