domingo, 11 de setembro de 2011

Dia de cão? Nada disso, o meu é levinho...


Imagina acordar cedo, pegar ônibus lotado, levar a marmita na mochila e ainda ter um dia todo de trabalho pela frente. Sem falar que no final do dia o jeito é enfrentar mais uma viagem quase sem espaço para respirar.
Meu ponto tem a vantagem de não ser o dos piores, consigo sentar quase sempre. Muito difícil eu fazer a viagem toda em pé, embora quando isso acontece meu humor chega a ir pra todos os sentidos. Por isso pergunto se alguém que está carregado quer que eu segure a bolsa ou a mochila. Sei bem como é estar em pé, se equilibrando e ainda cheio de coisas.
Outro dia desses tinham duas amigas, elas estavam exatamente nessa situação e perguntei se queriam que eu segurasse as sacolas e bolsas. Elas aceitaram prontamente. Como fiquei com as coisas delas, não tinha como não ouvir a conversa. Elas estavam do meu lado e não faziam questão de falar baixo. Eram faxineiras em um bairro de classe média alta, uma tinha várias clientes na redondeza e a outra tinha uma patroa só. Mas como dizia ela, e que patroa. “Sabe eu não saio de lá porque tenho carteira assinada e já me acostumei com o jeito dela. Quando chego fico de olho pra saber como que ela está e dependendo do dia coloco meu fone e ligo aspirador logo cedo, assim não fico escutando as besteiras que ela fala. O que adianta tanto dinheiro e nada de felicidade”. A outro retrucava “Carteira assinada eu sinto falta, mas ganho mais com a faxina mesmo. Hoje é dia da Sra. Barbie. Você acredita que tenho que chegar agora picar todas as frutas para ela comer? A mulher é magra, mas vive de dieta. O pior é que a geladeira dela só tem essas coisas levinhas, por isso trago minha comida. Imagina ficar sem arroz e feijão, só com salada e um grelhadinho? Isso não é vida. Esse povo rico não sabe o que é uma comida com sustança.”
“Nossa esqueci de contar a última da minha patroa”, disse a amiga da carteira assinada. “Você acredita que ela resolveu contratar um detetive particular para seguir o marido. E ainda queria que eu concordasse com ela. Eu disse pra ela, ai disse mesmo, não agüentava mais, se a senhora já sabe que ele tem outra, pra que gastar dinheiro com isso. Pega o dinheiro e vai fazer compra”. A amiga das faxinas olhou indignada “Você chamou ela de chifruda na cara?” “Ah, falei mesmo não aguento mais ela chorando pelos cantos, ligando pras peruas amiga dela e reclamando da vida que ele tem outra. Sai de casa ou finge de morta.”
Nessa hora as duas pediram as sacolas e foram aos seus trabalhos. E eu segui minha viagem imaginando como seriam o dia delas com essas figuras que parecem mais personagens de novela.
Agradeço sempre por ouvir essas histórias, vejo como o meu dia é melhor que de muitas pessoas. Assim não dá espaço nem pra reclamar, quanto mais sentir preguiça.

2 comentários:

  1. o que eu adoro nessas tuas histórias é que elas têm cara, cor, cheiro, som... pelo menos aqui na minha cabeça! rs. é uma delícia visualizar a cena no busão... e melhor ainda o filme de cada um dos enredos. Ainda vou editar esse seu livro!! rsrs... beijão!

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  2. Cá, obrigada! Realmente andar de ônibus e observar o cotidiano dá um livro viu! São tantas histórias! Bjs

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